quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Grandes Primatas em perigo devido a Vírus Humano

A abertura de reservas naturais de gorilas e de chimpanzés, ao turismo, é muitas vezes a chave para a conservação destes grandes primatas em perigo. Contudo, existem também preocupações de que o turismo possa expor os primatas selvagens a infecções através de doenças humanas virulentas.

Segundo alguns investigadores, a caça comercial e a perda de habitat, são as principais causas do rápido declínio dos grandes primatas. A exploração e promoção do ecoturismo e investigação vieram dar um novo valor aos primatas e aos seus habitats. Enquanto que, o contacto próximo entre seres humanos e primatas habituados aos mesmos, tem causado inquietação sobre a transmissão de doenças, estudos prévios apenas demonstraram a dispersão de infecções bacterianas e parasíticas relativamente baixas, de seres humanos a primatas selvagens.
Um novo estudo de investigadores do Instituto de Robert Koch (Berlim), do Instituto de Max Planck de Antropologia Evolutiva (Leipzig) e do Centro Suisse des Recherches Scientifiques (Costa de Marfim) confirma a ameaça de doenças, encontrando a primeira evidência directa da transmissão de vírus de seres humanos a primatas selvagens. No entanto, o estudo também mostrou que a pesquisa e os projectos de turismo diminuíram fortemente a caça clandestina de chimpanzés. Este efeito protector, excedeu em grande número a substancial mortalidade de chimpanzés causada pela introdução de doenças humanas.

A introdução de doenças respiratórias, por seres humanos, foi muito tempo suspeita em locais onde primatas, no estado selvagem, estiveram em contacto próximo com seres humanos, mas este é o primeiro estudo a diagnosticar o agente da doença e a quantificar o impacto demográfico. "Temos de ser muito mais proactivos em instituir precauções de higiene estritas em todo o turismo com primatas e locais de pesquisa", diz Fabian Leendertz, autor principal do artigo e um epidemiologista de doenças na vida selvagem no Instituto de Robert Koch em Berlim.
"Uma possibilidade para promover complacência é um processo de certificado semelhante ao sistema de etiquetagem verde usado actualmente na indústria da madeira."

O estudo usou uma abordagem multidisciplinar que implica ecologia comportamental, medicina veterinária, virologia e biologia demográfica, para seguir a pista da introdução de doenças humanas em duas comunidades de chimpanzés no Parque Nacional de Taï em Côte d’Ivoire, onde os investigadores começaram a habituar chimpanzés à presença humana em 1982. As amostras de tecido retiradas de chimpanzés, que tinham morrido numa série de surtos que datam de 1999, foram testadas, dando positivo para dois vírus respiratórios humanos que são os principais causadores da mortalidade infantil humana nos países em desenvolvimento, denominados vírus syncytial respiratório humano e metapneumovirus humano.

As estirpes virais amostradas dos chimpanzés foram relacionadas com estirpes pandémicas que, nos dias de hoje, circulam em populações humanas tão afastadas como a China e a Argentina, sugerindo uma introdução recente nos chimpanzés através de seres humanos. Os autores usaram também observações clínicas e análises demográficas, para concluir que os surtos de doenças respiratórias semelhantes podem datar até 1986.

O projecto de pesquisa teve também efeitos fortemente positivos. Investigações paralelas mostraram que a presença de investigadores tinha diminuído actividades de caça nas áreas circundantes. Consequentemente, as densidades de chimpanzés, tanto nos locais de estudo assim como nos locais próximos do turismo em chimpanzés, foram muito mais altas do que seria esperado dado à facilidade de acesso a caçadores clandestinos. "A presença de investigadores é confirmada como tendo um elevado impacto positivo na protecção de uma área," diz o co-autor Christophe Boesch do Instituto de Max Planck de Antropologia Evolutiva (MPI-EVA) em Leipzig, que dirige o projecto de investigação em Taï. “Contudo, com esta presença benéfica, surgem alguns problemas de higiene que têm de ser resolvidos."

"O estudo confirma que a investigação multidisciplinar é necessária para averiguar diferentes questões implicadas na conservação de primatas", disse Paul N’Goran, um investigador do Centro Suisse de Recherches Scientifiques em Côte d’Ivoire. "O nosso estudo mostra a importante função que a investigação científica pode ter na monitorização de impacto e a eficácia de estratégias de conservação."

Na foto: Christophe Boesch, Director de Projectos com chimpanzés, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, apela por melhores medidas de higiene no turismo de Grandes Primatas. (Por: Sonja Metzger/Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology)

Journal Reference: Sophie Köndgen, Hjalmar Kühl, Paul K. N’Goran, Peter D. Walsh, Svenja Schenk, Nancy Ernst, Roman Biek, Pierre Formenty, Kerstin Mätz-Rensing, Brunhilde Schweiger, Sandra Junglen, Heinz Ellerbrok, Andreas Nitsche, Thomas Briese, W. Ian Lipkin, Georg Pauli, Christophe Boesch, e Fabian H. Leendertz. Pandemic Human Viruses Cause Decline of Endangered Great Apes.

Publicado dia 26 de Janeiro de 2008