terça-feira, 13 de maio de 2008

A Compreensão da Evolução dos Primatas pode ajudar na Investigação em HIV

A evolução encaixa-se e começa quando as espécies são moldadas através de mutações genéticas aleatórias que as podem ajudar a sobreviver ou mesmo acelerar a sua extinção. Mas apesar de as mutações ocorrerem por mudanças, o processo pode criar surpreendentemente resultados semelhantes. Uma nova investigação providenciou um exemplo em que a evolução não resultou apenas em dados similares – repetindo-se duplamente no mesmo caminho. Cientistas da Universidade de Rockfeller e do Centro de Investigação de AIDS Aaron Diamond, demonstraram que a mesma mutação ocorreu duas vezes, em duas espécies de macacos que vivem em lados opostos do planeta. E enquanto a mutação evoluiu independentemente em cada caso, em ambas as espécies tem um papel distinto em como os animais afastam a doença.

Alguns anos atrás, os investigadores descobriram um gene chamado TRIM5 que permite à maioria dos primatas inibir o vírus imunodeficiente humano e outros retrovírus, que usam a transcriptase reversa para se inserirem no genoma dos hospedeiros. É de sublinhar que o TRIM5 existe em todos os primatas, incluindo humanos, e este está envolvido numa rápida evolução com os retrovírus: cada espécie possui um TRIM5 específico que evoluiu para “desviar” os retrovírus, e cada retrovírus sofreu mutações para invadir hospedeiros específicos. Uma alteração particular foi a inserção de uma proteína chamada ciclofilina no gene TRIM5 dos macacos–coruja criando a proteína híbrida TRIMcyp, que possui a capacidade de bloquear o vírus HIV. Recentemente, um estudo publicado online pela Proceedings of the National Academy of Sciences mostrou que nos macacos-cauda-de-porco a mesma proteína inserida no mesmo local do genoma tem o resultado oposto – curiosamente estes macacos são vulneráveis ao vírus.

Paul Bieniasz, descobriu a susceptibilidade de diferentes espécies de macacos através da análise de celulas e da consequente reacção ao vírus HIV e outros retrovírus. A diferença destas duas espécies em destaque foi surpreendente!

Primeiro, eles determinaram que as células dos macacos-cauda-de-porco conseguem combater outros retrovírus, como os dos símios e felinos. Depois, Bieniasz e Hatziioannou adicionaram ciclosporina, uma droga que interage com a ciclofilina, à equação e observaram para ver se as células dos cauda-de-porco eram afectadas nas interacções virais. Esta droga é conhecida por superar a capacidade da TRIMcyp dos macacos-coruja no combate contra os vírus. Seguramente, a cicloporina afectou a capacidade da ciclofilina para combater os retrovírus dos símios e felinos. “Isto sugere que nestes macacos existe, provavelmente, uma proteína como a TRIMcyp dos macacos-coruja,” diz Hatziiannou.

Os investigadores isolaram o gene TRIM5 dos macacos-cauda-de-porco e descobriram que, como nos macacos-coruja, os cauda-de-porco têm também a ciclofilina inserida no gene TRIM5, embora tenha sido descoberto numa localização ligeiramente diferente. Não apenas isso, mas constataram que existe um aminoácido modificado na ciclofilina dos cauda-de-porco, uma pequena alteração que dita se os macacos conseguem inibir ou não o HIV.

O que surpreendeu ainda mais os investigadores é que o TRIMcyp está presente em espécies de macacos que evoluíram em diferentes continentes. Os macacos-cauda-de-porco vivem principalmente no Sudeste Asiático e os macacos-coruja só existem na América Central e do Sul. “Isto indica que ocorreu um evento evolucionário improvável, não uma mas duas vezes, em duas espécies de primatas separadas por cerca de 35 milhões de anos,” diz Bieniasz. “Este é um exemplo notável de evolução convergente, sublinhando a grande pressão selectiva que pode ser aplicada pelos retrovírus.” Não só isso, mas a sua constatação tem potencial para orientar os investigadores em direcção a um modelo animal efectivo de infecção por HIV – algo que a área actualmente carece.

Publicada dia 27 de Fevereiro de 2008